quinta-feira, 23 de junho de 2011

Por LUCAS VALLIM

Já te falei as primeiras coisas e agora eu tenho que te dizer o que realmente é importante. É que é difícil para eu dizer, quase impossível, talvez eu não consiga, não sei se entende. Tantos anos sozinho, aqui ou na loja, sem falar com ninguém a não ser com o carteiro e as pessoas que me entregam a água e as compras, de vez em quando alguma coisa a mais que eu encomendo, quase nunca, e as únicas palavras que eu escuto são assine aqui, aqui e aqui, por favor. Eu não me dou o trabalho de ir até o mercado ou qualquer outro lugar. Compro tudo na internet. O fato é que eu desaprendi a falar com as pessoas, e principalmente com você, que partiu há tantos anos e me fez não querer mais falar com ninguém. Mas é claro, sim, tenho que te dizer e eu estou enrolando. É que é difícil dizer, eu não consigo. Eu já vou dizer. Bem, o que eu tenho pra te dizer é que. É que. Nunca te disse isso. Bem, por onde começo? É que. É que. Está bem, estou quase criando coragem. O que eu tenho de importante pra te dizer é que eu te amei e. É que eu te amei e. É que eu te amei e eu. É que eu te amei e ainda te amo, e sinto saudade. Aquela saudade das fotografias, e ainda mais. Saudade absurda, impossível. Saudade. Saudade. Saudade. Saudade. Até que a palavra perca o sentido. Saudade. Saudade. Saudade. Saudade... Tenho saudade de você e de tudo que você me trazia, e tenho saudade da minha vida antiga, me sinto como se um dia ela fosse voltar, essa vida, você. Meu eu verdadeiro era com você, aquela vida, a casa nova, a loja, o violão. Não esse eu de agora. Esse eu sozinho. Tenho saudade. Saudade. Tenho saudade de você e, principalmente, tenho saudade de mim.

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